Filosofia e Terapia


Bruno Carrasco, terapeuta filosófico, professor de filosofia e psicologia. Se interessa por pensar e experimentar modos de vida que escapam aos roteiros habituais, considerando as diferenças, as intensidades, os afetos e as circunstâncias, na busca de outras maneiras de viver.

Atua como um acompanhante filosófico, acolhendo dilemas e as distintas experiências de cada um. Não oferece respostas prontas, mas um convite para repensar as questões da vida com profundidade, rever sua trajetória e encontrar novas maneiras de existir.

Com um viés questionador, relaciona saberes em filosofiapsicologia, ciências sociais e artes, integrando sensibilidades para se aproximar dos distintos modos de ser e se expressar de cada pessoa, considerando suas peculiaridades. Embasa sua prática numa escuta atenta e reflexão filosófica, encarando a vida como uma obra aberta em permanente transformação.

Graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico-Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos tem estudado sobre perspectiva crítica, filosofia da diferença, sofrimento e afirmação da vida em Nietzsche, relações de poder e libertação em Foucault, criação singular e diferença em Deleuze.

No final de 2016 iniciou o ex-isto, um ateliê filosófico virtual onde compartilha conteúdos que transitam entre filosofia, psicologia e ciências humanas, com um enfoque reflexivo e crítico, oferecendo cursos livres, grupos de estudos, leitura comentada e outras atividades, abordando temas como a singularidade, o devir e a criação.

Temas de pesquisa

  • Perspectivas terapêuticas em psicologia e filosofia
  • Psicologia crítica, antipsiquiatria e fenomenologia
  • Sofrimento e afirmação da vida em Nietzsche
  • Práticas de si na filosofia antiga e contemporânea
  • Saber-poder, loucura e subjetivação em Foucault
  • Esquizoanálise, pós-estruturalismo e filosofia prática

Admirável Mundo Novo


A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, promove cada vez menos a saúde mental e contribui para minar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amar do indivíduo; tende a transformá-lo num autómato que paga o seu fracasso humano com o aumento das doenças mentais e com o desespero oculto sob um frenesim de trabalho e de pretenso prazer. 

Este aumento das doenças mentais pode ter expressão em sintomas neuróticos, claramente visíveis e extremamente penosos. Mas abstenhamo-nos, como diz Fromm, de definir a higiene mental como a prevenção de sintomas. Estes não são nossos inimigos, mas, sim, nossos amigos; quando há sintomas, há conflito, e o conflito indica sempre que as forças da vida que pugnam pela integração e pela felicidade continuam a lutar. Os casos de doença mental realmente desesperados encontram-se entre os indivíduos que parecem mais normais. Muito deles são normais por se encontrarem tão bem adaptados ao nosso modo de vida, porque a sua voz humana foi silenciada tão precocemente nas suas vidas que nem sequer lutam ou sofrem ou desenvolvem sintomas como o neurótico. 

Não são normais no sentido absoluto que poderíamos dar à palavra; são normais apenas em relação a uma sociedade profundamente anormal. A sua adaptação perfeita a essa sociedade anormal é uma medida da sua doença mental. Estes milhões de indivíduos anormalmente normais, que vivem sem espalhafato numa sociedade à qual, se fossem seres humanos por inteiro, não deviam estar adaptados, acalentam ainda a ilusão da individualidade, mas, na realidade, estão em grande medida desindividualizados. A sua conformidade evolui para uma coisa parecida com a uniformidade. mas uniformidade e liberdade são incompatíveis. A uniformidade e a saúde mental são também incompatíveis. [...] O homem não é feito para ser um autómato, e, se nisso se tornar, a base do seu equilíbrio mental está destruída.

(Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo)