Admirável Mundo Novo


A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, promove cada vez menos a saúde mental e contribui para minar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amar do indivíduo; tende a transformá-lo num autómato que paga o seu fracasso humano com o aumento das doenças mentais e com o desespero oculto sob um frenesim de trabalho e de pretenso prazer. 

Este aumento das doenças mentais pode ter expressão em sintomas neuróticos, claramente visíveis e extremamente penosos. Mas abstenhamo-nos, como diz Fromm, de definir a higiene mental como a prevenção de sintomas. Estes não são nossos inimigos, mas, sim, nossos amigos; quando há sintomas, há conflito, e o conflito indica sempre que as forças da vida que pugnam pela integração e pela felicidade continuam a lutar. Os casos de doença mental realmente desesperados encontram-se entre os indivíduos que parecem mais normais. Muito deles são normais por se encontrarem tão bem adaptados ao nosso modo de vida, porque a sua voz humana foi silenciada tão precocemente nas suas vidas que nem sequer lutam ou sofrem ou desenvolvem sintomas como o neurótico. 

Não são normais no sentido absoluto que poderíamos dar à palavra; são normais apenas em relação a uma sociedade profundamente anormal. A sua adaptação perfeita a essa sociedade anormal é uma medida da sua doença mental. Estes milhões de indivíduos anormalmente normais, que vivem sem espalhafato numa sociedade à qual, se fossem seres humanos por inteiro, não deviam estar adaptados, acalentam ainda a ilusão da individualidade, mas, na realidade, estão em grande medida desindividualizados. A sua conformidade evolui para uma coisa parecida com a uniformidade. mas uniformidade e liberdade são incompatíveis. A uniformidade e a saúde mental são também incompatíveis. [...] O homem não é feito para ser um autómato, e, se nisso se tornar, a base do seu equilíbrio mental está destruída.

(Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo)

nobru experimental

experimentos sonoros, música eletrônica, eletroacústica, conceitual, achados e perdidos de bruno nobru, feitos por volta de 2002:



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https://soundcloud.com/nobruexp

Doença Capital

Ventos urbanos,
desvios de personalidade
da cidade.
Descargas dióxidas
se unem para subirem juntas
ao céu.
Um lindo arco-íris cinza
de várias tonalidades.
São Paulo, a grande mãe, reclama:

- São tantos filhos
que não consigo cuidar!
Minhas mãos e pés
estão doentes,
e minha cabeça
só pensa em trabalhar,
números cada vez maiores,
e o corpo tem que acompanhar..

Metrópolis,
sangue eletricidade,
energia magnética,
helicópteros fazem
ondas de ar vibrar,
embaixo vibram
os metrôs na terra.
Um filho esquecido reclama:

- Grande mãe,
moro nas últimas linhas
do destino da palma
de sua mão esquerda,
porque me irrigas
com tão pouco sangue e energia
sendo que temos que trabalhar
pra te manter viva??!..

(Éderson Brandão)