Arte para vida!!!, Sandro Nogueira

1- Vivenciar a arte ou vivenciar conceitos artísticos
Desde quando comecei a estudar a música em caráter formal, vivenciei situações que influenciaram positiva ou negativamente a construção de várias concepções em meu fazer artístico. Depois de um tempo, digamos, considerável, resolvi avaliar, afinal de contas eram 8 anos inserido no contexto acadêmico, eu já havia tentado vários caminhos fundamentados no pensamento científico, mas estava insatisfeito com os resultados, pois constatava, “ainda não achei nada funcional, ou mesmo, coerente para suprir minha busca”. Que era me expressar livremente. Tudo me parecia um tanto invertido, incoerente e muitas vezes até retrógrado. Mas em respeito ao sistema de ensino escolhido por profissionais da área (mito adquirido por interação com a cultura comum) preferi ficar quieto e aguardar, estudar, pois acreditava que possivelmente o resultado viria.
Bem, durante o meio do curso da faculdade de música, por intermédio da pessoa que considero sim minha orientadora Enny Parejo, tive a oportunidade de pela primeira vez estudar um conteúdo significativo para a vida (que estava além do método), e posteriormente para música, para arte e a expressão artística.Este conteúdo foi o paradigma Holístico. No caso, aplicado a música.
Esta nova abordagem de interpretação dos fatos em comparação com com o senso comum acadêmico e sua contínua reprodução de metodologias reducionistas, mecanicistas e fragmentadas, foi simplesmente o elemento colaborador que destruiu as muralhas retalhadas e mal alicerçadas de uma cópia mal feita da cultura européia.
Desde que eu era um menino sentado com meu violão na calçada não me sentia tão livre para tocar o que realmente queria, com sinceridade, sem amarras racionalistas, pois a arte não é nada a mais e nada a menos do que isso!!! Liberdade! Tenho só que agradecer a Enny. 
A oito anos retomei o caminho para a essência da arte, e durante este período, conheci e toquei com pessoas que somaram para minha experiência, muito mais do que se eu passasse a vida inteira pensando e elaborando racionalmente como me expressar.
Lamento muito em saber que tem pessoas que buscam o aperfeiçoamento em instituições de ensino e que não sabem que estas instituições buscam somente o aperfeiçoamento em suas contas bancárias, pois, são os mercenários da educação. Lamento em saber que muitas pessoas vão se frustrar e desistir de sua busca em direção a arte e de se expressar como artista, por estarem vivendo enganados e longe da arte, pois capitalismo e arte raramente andam juntos.
Conheço várias pessoas que contemplam uma expressão artística mas perderam o contato com isso dentro de seu interior, por bloqueios e medos adquiridos pela interação com meios de ensino ditatorial. 
Mesmo em pleno exercício da liberdade, compartilhando arte com diversas pessoas, em algumas ocasiões noto um egocentrismo patológico interferindo na relação entre professores e alunos, e até mesmo entre artistas, se é que posso considerar alguém que não divide, um artista e muito menos um professor. Lamento por tal!
Pessoas para conviver em um ambiente de troca e de evolução cooperativa estão cada vez mais raras.
Quando eu saí do esquema acadêmico muitos amigos me falaram que era perigoso viver de música sem o diplominha. Mesmo assim preferi jogar tudo no lixo, pois, mais medo tive eu de ficar enfiado numa casta devoradora de conceitos em busca de um diploma, e por isso talvez ter que passar o resto de minha vida sem conhecer música, e o pior, sem viver a música e de música. Vivo da arte mais não romantizo minha profissão, vivo apenas a simplicidade, faço o que estou afim de fazer, do contrário seria médico ou advogado, que são profissões bem aceitas pela massa além de lucrativas.

2- Viver de música é difícil?
Sempre me deparo com opiniões tipo: Mas viver de música é tão difícil né? Realmente para quem pensa somente que viver é disputar com o vizinho quem tem o melhor carro e melhor casa é mesmo, principalmente porque quem está neste nível de percepção e usa seu tempo para fazer isso, jamais teria sensibilidade para compreender a arte.
No meu caso, vivo do que amo, não sei o que significa isso de difícil. Naturalmente todas as pessoas passam por momentos financeiros favoráveis e não favoráveis, mas no frigir dos ovos, salve a música!
De tanto ouvir indagações sobre meu ofício já adquiri preguiça de responder, compreendo apenas que pior é viver enganado, pensando que dinheiro é o foco da vida.
Vivo a música, da música, e melhor que muito advogado e médico ou seja lá qualquer profissão que exista. Detestaria viver como muitos escravos da indústria chegando em casa depois de passar um dia inteiro fazendo o que não ama, pois vejo nisso um fardo que dinheiro nenhum paga. Não vejo vantagem em passar a maioria do tempo fazendo o que não quero para em um momento de folga pagar para fazer o que estou afim (comprar o direito de se divertir) acho que quem não vive o que é, fica tão alienado que num espaço curto de tempo não conseguirá saber nem o que está afim de fazer, no caso, até o entretenimento está em seguir a maré. Isso é viver? Que medo!
Vivo o ócio criativo, e o termo “trabalho”, desde que a balança pendeu drasticamente para o lado da classe abastada, é sinônimo de opressão e de alienação, de fazer o que não gosta para enriquecer o dono da bola.
Como meu trabalho é me divertir e dividir isso com quem está aberto para tal. Estou livre da mentirada!
Em síntese, viver de arte num país em que a arte ainda caminha a passos de formiga e onde a maioria pensa como operário oprimido, (isso sem incluir os que nem operário tem chance de ser, pois moram em regiões esquecidas pelo governo e empresas) além de um tanto desafiador, é um prazer imensurável, pois, desfrutar do que plantamos amparados em nossos sonhos e ideais, para mim ao menos, é uma honra!!! Parabéns aos artistas deste grande país!!! Piracema!!!
Lutar contra a correnteza não é para qualquer peixe!

Seja livre, viva arte!!!
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Texto por: Sandro Nogueira
Fonte: blogsandronogueira.blogspot.com

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