Manifesto Feijoada Polifônica, Pedra Branca

Primeiro Manifesto: Culinária
por Luciano Sallun e Joana Coccarelli

Dos fluxos sonoros e do devir ancestral, a ciência culinária do agenciamento de timbres; barriga quente sobre reinvenção de segmentos estilísticos musicais eletrônicos. Fogões em linha de fuga, singularidade e afirmação da diferença nos sons – eis a órbita em que gira Pedra Branca, seu almoço de sábado diário. É feijoada polifônica, porque experimenta-se música de instrumentos que ora são étnicos, ora foram construídos pelos próprios músicos, ora são programações eletrônicas que realçam toda e qualquer gama de efeitos orgânicos. Mas tudo com brasilidade antinacionalista, essa superfície da miscigenação brasileira, dos diversos povos e culturas que aqui habitam.

Frita que frita, passa a desterritorialização musical na banha que logo sobem bolhas de polifonia. Bem-passa o alimento do cosmos e da terra, garfando acaso num dente e criação multi-timbrística no outro. A faca raspa em des-construção instrumental e limpa o prato para uma cultura capaz do plural e do reabitável. Feijoada étnica e polifonias digitais tribalistas, metamorfoseando os sons como modo de vida e criação de mundos, como vibração e devir animal, polpa e eletricidade urbanoises sem cultura de massa. Nem bolonhesa, nem quatro-queijos.

As sutilezas das músicas salivam magia e dimensões arrebatadas, ainda que de boca fechada sejam imperceptíveis aos olhos das máquinas de subjetivação social. Elétrons do sabor e moléculas do perfume, analógicos e digitais – a Arte se manifesta na ruptura do ciberespaço, onde os sons não se fixam nos sentidos, mas sim na intensidade e no fluxo.

Uma volta ao organismo planetário desterritorializado na nave-tempo ancestral. Feijoada Polifônica: sitar, didgeridoo, tabla, alaúde, tanpura, tambor onça, pandeiro, djembe, cuíca, darbuka, berimbau, guinbardi, flautas e udu pulverizam e multiplicam suas raízes étnicas. Timbres orgânicos-eletrônicos. Instrumentos inventados e colagens virtuais. Experimentações sonoras e improvisações.

Pedra Branca: pedrabranca.mus.br

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