Frente de Luta por Moradia

São Paulo, 03 de dezembro de 2010.

Estamos morando na rua em frente à Câmara Municipal desde o dia 25 de novembro. Fomos retirados de um prédio abandonado na Avenida Ipiranga. Imóvel este lacrado há mais de cinco anos, estava cheio de lixo. O judiciário, sem considerar a função social da propriedade, os limites que a Lei impõe ao proprietário e os Direitos Fundamentais do Ser Humano determinou a reintegração de posse. Pediu ao Batalhão de Choque fortemente armado para tirar à força as pessoas que ali estavam morando. Não houve diálogo, nem audiência pra ouvir as partes. Regra fundamental do Direito e da Democracia. O Judiciário devolveu o prédio aos ratos, baratas, pulgas e dengue. Apesar desse aparato armado, que se voltava contra nós, saímos de lá pacificamente. Somos de paz. Ao todo, 37 crianças e 257 famílias. Nossa teimosia em ficar morando na rua, deve-se às nossas condições de vida, seja, não temos onde morar. Parte de nossas famílias, saíram de um terreno do Alto Alegre, Zona Leste. Cujo, proprietário, responde por crime ambiental por ter desmatado a área. De lá também fomos despejados. Agora o proprietário está loteando a gleba irregularmente. As demais famílias vem de favelas onde perderam seus barracos e de despejos.

Só ficamos aqui porque não temos para onde ir. Pois sofremos tortura a todo momento. É o Presidente da Comissão de Direitos Humanos que nega a palavra e ameaça chamar a polícia para nos retirar do recinto. O Presidente da Câmara, nega a utilização dos sanitários. Os policiais coagem permanentemente as pessoas. A CET, quando quebra um carro, sinaliza as ruas, etc. Entretanto para proteger as crianças e os sem teto não há sinalização próximo ao local.

Entendemos que o Bem maior a ser protegido é o Ser Humano. Mas tudo que acontece indica inversão de valores. Fomos informados pelo Ministério Público que a Casa está preocupada com as crianças e quer tirá-las dali. Separá-las de suas mães. Que hipocrisia. Se é sincera a preocupação por que não abre o sanitário, não manda a CET sinalizar a rua, por que não pede ao Poder Público para nos atender? Assim, a situação estaria resolvida. Não vamos aceitar essa violência, já nos tiraram tudo, agora querem levar as crianças. Decidimos então: “Onde fica a galinha, ficam os pintos”.

Na última sexta-feira a Câmara Municipal de São Paulo completou 450 anos e  o professor Aziz Ab’Saber visitou o acampamento que está na entrada.  ”É total falta de inteligência depois de 450 anos ainda termos que conviver com uma situação destas. É total falta de direitos humanos”, lamentou Aziz Ab’Saber, vendo as famílias e seus colchonetes e pertences, na porta da casa de leis cidade mais rica do país.

Estamos em missão de paz, pleiteamos somente um lugar para morar. Reiteramos nosso pedido. Atender as famílias de modo emergencial; Inclui – lás em projetos de atendimento definitivo


Paz e Bem,
FLM – Frente de Luta por Moradia

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