Negro, alto e esguio, usava trajes exóticos, punha no rosto óculos de armações bizarras. Poeta, compositor, arranjador, foi um artista completo. Era “imperativo”, não no sentido monárquico da expressão, mas no sentido anárquico, performático e complexo do termo.
Arredio em entrevistas, no palco era muitas vezes mordaz e agressivo com a platéia, do mesmo modo, com os companheiros de “Isca”. Rotulado de “maldito” pela mídia, por inúmeras boicotagens, e autos-boicotes, Itamar abriu mão de contratos com gravadoras de grande porte, para unicamente, sacudir o coreto, sem assinar a carteira.
Nascido na cidade de Tietê, interior paulista, assim como o rio homônimo à urbe, Itamar atravessou todo o estado, na ginga dos meandros, esquivando-se disso e daquilo. Em Arapongas, no Paraná, lugar que morou desde a partida da cidade em que nasceu, participou de peças teatrais, cultivou orquídeas, para só posteriormente, no início dos anos 70, vir para São Paulo.
Passado alguns anos desde sua chegada na capital paulista, no final da década, desembocou na praça Benedito Calixto, no festival “Feira da Vila”. Morou em vários locais da região central, para em fim, criar raízes no bairro da Penha, zona leste de Sampa.
Parceiro dos poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz, as composições do “Pirata de Tietê” eram construídas, sob a armação polissêmica, de um genuíno poema. Segundo a jornalista Paula Palumbo, “Leminski disse à Itamar que ele era poeta. Discutiram, claro, mas por fim, há poesia sobrando no discurso irônico, romântico, passional de Itamar”.
Influenciado pelo sincretismo harmônico, misturou Miles Davis com a síncope regueira de Bob Marley, o vulcanismo de Jimi Hendrix, o Clube da Esquina e Ataulfo Alves – a polifonia – que é característico da sua música, era puro ritmanblackblues.
No entanto, esta polifonia era interferência conseqüencial, de distintas influências, sobretudo, a do parceiro e amigo Arrigo Barnabé, da música concreta e atonal, e também das bandas que tocavam no teatro Lira Paulistana, a “Vanguarda Paulista”, da qual faziam parte.
Itamar Assumpção se foi em 2003, porém, a obra do Beleléu, como se autoproclamava, esta, não irá pro beleléu! “Nego dito, por exemplo, é a situação de um cara indignado com a realidade, com a violência, fala de uma solidão, de cidade grande”, disse em entrevista, nos anos 80.
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