estética do fracasso

a estética do fracasso é um coletivo (anti) artístico-filosófico de criações e transformações cotidianas, baseado na perda, na derrota. é uma reação irônica ao mundo atual, calcado no valor de mercado, nao no humano. um espaço físico e conceitual baseado no fetichismo da mercadoria, no consumismo doentio como substitutivo das reais possibilidades e potencialidades humanas, de elevação. onde o indivíduo se vê oprimido pela necessidade constante e crescente de gerar lucro, de se fazer pleno e realizar-se mediante o acúmulo de bens, ao mesmo tempo em que é impelido à competição e confronto com seu semelhante, satisfazendo premissas mercadológicas e violentando os mais básicos instintos e anseios humanos. a guerra dos shopping-centers nao é o caminho.


queremos discutir o absurdo dessa organização social, que incentiva o cultivo de valores rasteiros, que prega a necessidade de um sucesso duvidoso, obtido pelo acúmulo de prêmios (literários, musicais, cinematográficos, etc), de bens materiais (propriedades, carros, jóias, roupas, etc), de status (fama, aparições na mídia, presença em coquetéis, festas, vernissages, etc).

isso é o sucesso? percebendo que a grande maioria das pessoas não só aceita, como persegue essa definição de sucesso, nós resolvemos vestir a camiseta do fracasso. não compactuamos com essa aviltante escala de valores. esse sucesso é uma mentira.

então o que é o sucesso para um esteta do fracasso? o sucesso é seguir-se a si mesmo. o sucesso é a realização de todas as potencialidades humanas. é poder desenvolver as habilidades, os talentos e tendências naturais que cada um de nós possui. porque o sucesso é ser livre e ser livre é poder viver como se bem entende. o sucesso é a harmonia de todas as existências sem a necessidade de tantas regras, ordens, obrigações. o sucesso é a vida além do supérfluo, além de móveis, imóveis, empresa, carro, patrão, igreja, escola, supermercado. o sucesso é ser o que você bem entender e ser feliz de verdade. o sucesso não aparece na televisão, não está no jornal nem no rádio. o sucesso está diretamente ligado ao ser e não ao parecer ou ao ter. por que o processo de inserção social está erroneamente calcado na obrigação e não na satisfação das aptidões pessoais? o processo social como um todo está violentando o ser humano. precisamos compreender q as coisas estao erradas. a experiência vida pode ser muito melhor.

identificados com esse raciocínio, nós criamos a estética do fracasso. somos um grupo de pessoas que atuam em diversas áreas (música, texto, vídeo, artes plásticas, etc) e que acreditam no compromisso com algo muito maior do que qualquer patrão: o compromisso consigo mesmo. por isso nós não fazemos concessões ao mercado, nós fazemos concessões a nós mesmos. hermann hesse escreveu sobre a obstinação. esse é o sentido do que somos e do que fazemos.

baseados em ideais de fidelidade às nossas convicções, nós estamos apresentando esse manifesto que é, na realidade, nossa carta de apresentação: olá, nós somos os estetas do fracasso e nós não damos sorrisos gratuitos. não conte com nossa simpatia interesseira: nós não puxamos sacos.

nosso objetivo é o objetivo original e natural de todo ser racional: se expressar. dialogar com as pessoas. acreditamos na obra, não no produto. acreditamos na sinceridade, não no mercado.

sentimos a necessidade de nos agruparmos por admiração mútua, afinidades ideológicas e crença no nosso potencial como seres humanos criadores.

a frase saiu da boca de joão marcelo bôscoli e é mais ou menos assim: quando o departamento comercial se torna mais importante que o departamento artístico algo não está bem. concordamos com isso.

o capital chegou ao limite de sua inversão de valores. você é obrigado a ter um trabalho, a alugar seu tempo e cérebro ao interesse alheio, em troca de dinheiro, com o qual você adquire mercadorias, que lhe proporcionarão felicidade. o tão festejado estado democrático de direito esconde a realidade das relações que produz: a alienante ditadura da produção e do consumo. pessoas embrutecidas pela corrida aos postos de trabalho, cada vez mais escassos e subjugados aos interesses de uma elite vazia e patologicamente ambiciosa. o espírito humano, no sentido iluminista do termo, é dessa forma oprimido ao limite, tornando a vida em sociedade uma verdadeira fábrica de neuroses, intolerância e conflitos. a coerção está em tudo, em todas as instituições e em qualquer lugar onde se perceba o instinto de rebanho.

a arte não passa de uma instituição elitista e arrogante, reduzida a mercadorias e disputas de ego e status. a arte do fracasso se pauta por si mesma e não reconhece a arte institucionalizada, preferindo se alinhar à samizdat, tradição anti-artística caótica e subversiva. a arte do fracasso se ocupa dos perdedores, dos anônimos, dos marginais. o nosso belo é outro.

os estandartes do fracasso (textos de apresentação do movimento, como esse) são redigidos apenas em letras minúsculas e nao necessariamente respeitam normas de linguagem ou de etiqueta. mas as pessoas ligadas a esse movimento não se prendem a regras, representando a estética do fracasso uma bandeira, uma carta de crenças e intenções comuns, não implicando em qualquer tipo de compromisso formal por parte dos seus simpatizantes. a estética anuncia a ética do fracasso e o sucesso é sinal de decadencia.

os estetas do fracasso estão começando um movimento. silencioso. despretensioso. livre. sincero. os estetas do fracasso querem o além-do-homem, além de bem e de mal. os estetas do fracasso desejam uma existência mais harmônica, mais descontraída e relaxada, mais completa e calcada na busca pelo prazer, pela fruição e na identificação dos reais valores e potencialidades do ser humano. os estetas do fracasso não estão à venda.

a internet é o espaço mais adequado à livre-expressão, por isso criamos um website através do qual nos mantemos em comunicação com aqueles que acreditam nas idéias aqui contidas. o endereço é www.esteticadofracasso.cjb.net

identificam-se com essa estética: winston (música), tiago ribeiro (música, texto), felipeta (texto,desenho, vídeo), baga produções artísticas (cinema e vídeo), guilherme pilla (pintura, literatura, cinema e vídeo), leônidas cavalcante (literatura), eks (artes visuais), fabiana lopes (literatura), o apanhador (fanzine), léo dias (escultura, ilustração), deus e o diabo (música), pingarilho (cinema, vídeo, literatura, artes visuais), marcelo damaso (literatura), gabriela cavalheiro (pintura, escultura, arte digital), livros do mal (literatura), rasgos da infancia (fanzine), cachopa (música).

o esteta do fracasso produz buscas.

a estética do fracasso é um movimento não-hierárquico de ruptura com as estruturas vigentes, seja na arte, na política, na economia ou nas relações sociais e interpessoais. a revolução está no espírito. a matéria-prima é o cotidiano. os acima listados compartilham dessas idéias e acreditam em relações não-hierarquizadas, na individualidade, na liberdade de expressão e no livre arbítrio. o exército dos solitários sem pastor suplantará o rebanho dos "bons" e dos "justos". absolutize-se.

estética do fracasso: talvez vc escute algo a respeito.



"Em certas situações vale mais ser vencido do que vencedor."
Vincent Van Gogh

"a estética do fracasso é a única durável. quem nao compreende o fracasso está perdido.
a importância do fracasso é capital. não estou falando do fracassado. se não se compreende este segredo, esta estética, esta ética do fracasso, não se entende nada e a glória é vã."
Jean Cocteau - Ópio (1930)


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