o livro das ignorançãs, Manoel de Barros


os deslimites da palavra
-Uma didática da invenção

desaprender oito horas por dia ensina
-desinventar objetos

as coisas que não têm nome
são mais pronunciadas por crianças

para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal
de lagarto às três horas da tarde, no mês de agosto
em dois anos a inércia e o mato vão crescer e sofrerei uma
decomposição lírica até o mato sair na voz
-não tem altura o silêncio das pedras

os nomes já vem com unha?
-desculpe a delicadeza

maior que o infinito é o incolor
me parece que a hora está mais cega

eu sou culpado de mim
estou irresponsável de meu rumo

- pausei -

aromas de tomilhos desmeritam cigarras

ando muito completo de vazios
-a minha independência tem algemas

o desenho do céu me indetermina
quero apalpar o som das violetas
quero enxergar as coisas sem feitio
-minha voz inaugura os sussurros
-o azul me descortina para o dia
durmo na beira da cor

não sei mais calcular a cor das horas
as coisas me ampliaram para menos
a lua faz silêncio para os pássaros
-e eu escuto esse escândalo!

eu sou muitas pessoas destroçadas
ele me coisa, ela me rã, ele me àrvore
e me disseram que as coisas que não existem são mais bonitas

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